Kilmar Abrego Garcia foi detido e deportado mesmo tendo autorização para trabalhar nos EUA. Suprema Corte ordenou que governo americano facilite o retorno do imigrante ao país.
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, disse nesta segunda-feira (14) que não vai devolver aos Estados Unidos um imigrante que foi deportado por engano. A afirmação foi feita durante um encontro com Donald Trump, na Casa Branca.
Em uma reunião no Salão Oval, membros do governo Trump disseram que não eram obrigados a trazer de volta ao país o salvadorenho Kilmar Abrego Garcia.
O imigrante foi detido em março, mesmo tendo autorização para trabalhar nos Estados Unidos. Garcia foi acusado de ter envolvimento com a gangue MS-13, o que a defesa dele nega. O governo americano admitiu que a deportação foi um erro.
Na semana passada, a Suprema Corte dos EUA ordenou que administração federal facilite o retorno do imigrante. Bukele, por sua vez, afirmou que não tem poder para levar Garcia de volta aos Estados Unidos.
“A pergunta é absurda. Como eu poderia traficar um terrorista para os Estados Unidos?”, disse o presidente salvadorenho, ecoando a alegação do governo Trump de que Garcia é membro de uma gangue.
Trump chamou de “doentes” os repórteres que perguntaram se o governo cumpriria a ordem de retorno de Garcia.
Os advogados do imigrante continuam afirmando que os EUA não apresentaram nenhuma prova de que o imigrante salvadorenho faça parte de uma gangue.
Na semana passada, um tribunal de apelações dos EUA rejeitou um pedido do governo para suspender a ordem que exige que o governo facilite o retorno de Garcia.
“Se o governo queria provar ao tribunal distrital que Abrego Garcia era um membro ‘proeminente’ da MS-13, teve ampla oportunidade para isso — e não o fez, nem sequer tentou”, disse o tribunal de apelações em sua decisão.
Trump, que assumiu o cargo em janeiro prometendo reformar a política de imigração dos EUA, encontrou em Bukele um aliado nesse esforço. O governo dos EUA deportou centenas de pessoas, a maioria venezuelanos, para El Salvador com base na Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798.
O presidente americano afirmou que enviaria para El Salvador o maior número possível de pessoas vivendo ilegalmente nos EUA e ajudaria Bukele a construir novas prisões.
Megaprisões
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Kilmar Abrego Garcia em prisão de El Salvador – ele foi identificado na imagem pela mulher, Jennifer Vasquez Sura — Foto: U.S. District Court for the District of Maryland via AP
Os migrantes que El Salvador aceita dos EUA são mantidos em uma megaprisão de segurança máxima conhecida como Centro de Confinamento do Terrorismo. Críticos dizem que a prisão comete abusos de direitos humanos e que a repressão de Bukele contra as gangues tem levado à prisão de muitos inocentes, sem o devido processo legal.
Bukele disse a Trump que é acusado de encarcerar milhares de pessoas. “Gosto de dizer que, na verdade, libertamos milhões”, afirmou.
Trump reagiu com entusiasmo ao comentário de Bukele. “Acha que posso usar isso?”, perguntou. O americano aproveitou para criticar os opositores do Partido Democrata pela forma como lidam com a fronteira dos EUA.
“É um pecado o que eles fizeram, e você está nos ajudando. Agradecemos”, disse Trump.
No sábado (12), os EUA deportaram mais dez pessoas para El Salvador, que alega serem membros de gangues.
Advogados e familiares dos migrantes detidos em El Salvador dizem que eles não pertencem a gangues e não tiveram oportunidade de contestar a alegação do governo americano.
No mês passado, após um juiz determinar que voos com imigrantes processados sob a Lei de Inimigos Estrangeiros deveriam retornar aos EUA, Bukele publicou nas redes sociais: “Oopsie… Tarde demais”, junto com imagens mostrando homens sendo desembarcados de um avião durante a noite.
‘Tragam Kilmar para casa’
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Kilmar Abrego Garcia, deportado por engano para prisão em El Salvador — Foto: Murray Osorio PLLC vía AP
O caso de Kilmar Abrego Garcia, que foi enviado ao chamado Centro de Confinamento do Terrorismo em El Salvador em 15 de março, apesar de uma ordem que o protegia da deportação, chamou atenção especial.
A Suprema Corte dos EUA manteve a ordem da juíza Paula Xinis determinando que o governo “facilitasse e efetuasse” seu retorno, mas afirmou que o termo “efetuar” era ambíguo e poderia ultrapassar a autoridade da juíza.
Trump disse a repórteres na sexta-feira (11) que seu governo traria Garcia de volta caso a Suprema Corte ordenasse isso.
No entanto, em um documento apresentado à Justiça no domingo (13), o governo disse que não era obrigado a ajudar o imigrande a sair da prisão em El Salvador.
Um juiz de imigração já havia concedido proteção a Garcia contra a deportação, considerando que ele poderia sofrer violência de gangues em El Salvador. Ele possuía uma permissão de trabalho nos EUA.
Manifestantes, incluindo a esposa de Garcia, cidadã americana, reuniram-se em frente à Casa Branca antes da reunião entre Trump e Bukele.
“Presidente Trump, traga Kilmar para casa agora!”, disse um dos manifestantes ao grupo reunido em frente à Casa Branca.